quarta-feira, 19 de maio de 2010

Perdida numa rua familiar...



Vagueia pelas ruas, ruas familiares que parecem não se alterar com o passar do tempo... Vagueia agora por elas, sozinha, as mesmas ruas que outrora a fizeram sorrir, que testemunharam a felicidade no seu rosto são as mesmas ruas que agora lhe provam que tudo não passa de uma recordação, que nada é eterno e tudo tem um fim. Todos aqueles momentos em que os sorrisos eram verdade, todas aquelas experiências, todos os sentimentos que ali começaram ou cresceram se apagaram, fazendo apenas parte de uma névoa do passado...

Agora as ruas já não têm o mesmo efeito nela, já não lhe trazem a felicidade apenas a relembram que ela é, agora, apenas uma sombra do que haveria sido no passado. Agora já ninguém a acompanha naquelas ruas, agora aquelas ruas perderam o brilho, perderam a cor, agora são sombrias, cinzentas, frias... Agora ela caminha sozinha, a sua sombra é a única que a acompanha, ela é agora também uma sombra de si mesma... Gostaria de dizer que o seu coração batia mas até este está tão desfeito que perdeu a vontade de bater. Ela é apenas uma alma perdida que teima em caminhar as mesmas ruas, rodeada pelas mesmas caras, pois alguém lhe roubou a força para ir mais longe e o sentido de orientação para saber que caminho tem que tomar...

Restam-lhe agora os sonhos, os pensamentos, a vida que criou dentro da sua cabeça, que deve ser provavelmente a única coisa que mantém a sua sanidade... Que mantém aquele corpo inteiro, aquele coração que mal se aguenta seguro, aquela alma está coberta por uma pele que rasga e não cura. E ela sonha... Sonha com o que não tem, bem sonhamos todos... Digo, sonha com o que era suposto todos termos mas não tem. E deixou de acreditar, já não acredita nas pessoas, nem em nada mais, tudo à sua volta é uma mentira fria e cruel... Por vezes lembra-se que deve haver alguém no mundo que se sente da mesma forma mas sente a dor de novo a atacá-la e logo se esquece... Sente-se envolvida por uma manta espinhosa que verte ácido até às entranhas da sua alma...

Triste que isto a envolva de tal modo que ela não se permite a si mesma sentir-se feliz de novo, pois sabe que a dor da perda é demasiado grande e da próxima vez ela pode não ser capaz de superá-la... Refugia-se nesta escuridão e constrói um muro em volta de si mesma, um muro que a cada dia que passa se fortalece...

E agora perco-me, perco-me dentro de mim mesma e é mais fácil, é mais fácil perder-me sozinha do que perder-me com alguém e é de longe mais fácil do que tentar encontrar-me... Não me quero, por isso, encontrar talvez, um dia, me deixe ser encontrada...

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